terça-feira, maio 30, 2006

SNOBISMOS - Snob ao contrário lê-se "bons"


Acho que comecei a ir ao Snob para me sentir um. Sim, confirmei­‑o logo na primeira vez: as mesas a fazer lembrar salas de jogo ilegais, os candeeiros antigos, o ambiente conspirativo, os homens mais velhos de fato e gravata. Estava lá tudo o que eu não encontrava nos restaurantes/bares/poisos nocturnos mais apropriados à malta da minha idade.
Além disso havia o bifinho e o melhor bolo de bolacha de Lisboa e arredores. Quando comecei a frequentar o Snob, confesso, tinha que fazer uma certa ginástica para pagar a conta mas cedo descobri uns “aperitivos” grátis ­– explico: ir ao Snob poupava­—me o dinheiro que gastaria em jornais na manhã seguinte. Ah, pois é! Gosto do Snob por uma série de razões, as apontadas e outras ainda, mas o motivo principal é esse. O cochicho, a boataria, a pequena intriga entre jornalistas, políticos, actores. Não vejam nisto nada de depreciativo. Ser cusco é algo intrínseco ao género humano. E, numa colmeia de cuscos, não há nada melhor do que ser apicultor. Estar de fora, como outsider, a escutar… E depois, claro, também é o único sítio (graças à felicidade do Sr. Albino nas noites de glória do FCP) onde me apetece ser portista. Mas, como ainda não percebi se este sentimento é bom ou mau, fico­‑me por aqui.

Luís Filipe Borges, associado das Produções Fictícias
(Texto escrito para a comemoração dos 40 anos do Snob/2004)

quarta-feira, maio 17, 2006

SNOBISMOS - A Cantina


A cantina, diziam. Logo à noite na cantina. Eu não gostava dessa palavra. Impessoal, liceal. Que diabo. «Cantina». E, no entanto, à noite (fim de tarde ou noite noite) lá nos encontrávamos. No Snob. Era para a Rua do Século (eu para o taxista). Chegava à cantina: pacata, discreta, igualzinha, com madeira e pano verde. Mas animada pela conversa na mesa ao lado, que seguia mesmo sem fazer por isso. Mesmo que não levantasse os olhos do clássico bife (médio, com ovo). As pessoas do costume. Os grupos em despique e conspiração. A malta da imprensa. O meu amigo Francisco. O senhor Albino. E eu com as minhas três tristes tónicas. Jornais. Papelada. Logo à noite na cantina, dizia por vezes de mim para mim. E lá me dirigia, estivesse nessa noite derrotado ou feliz. Acreditem que não conheço melhor elogio.

Pedro Mexia, jornalista
(Texto escrito para a comemoração dos 40 anos do Snob/2004)

O Silêncio


A noite passada parecia um pesadelo. Na sala de entrada só se ouvia dizer boa-noite! Bom-dia, dizia eu, a tentar animar os ânimos.

Madureira, ao seu dispor.

domingo, maio 14, 2006

Snobismos - Eu Sou um Snobe


Há 41 anos, em Berlim, John Kennedy rematou com a frase "Ich bin ein Berliner" um famoso discurso em que afirmou que todos os homens livres, vivessem onde vivessem, eram cidadãos de Berlim, mostrando desse modo a sua solidariedade com a coragem do povo de Berlim Ocidental na sua luta pela liberdade contra a agressão soviética.
Na Lisboa desse tempo, o território dos bares nocturnos era o espaço ideal para quem gostava de discutir temas como a tal liberdade, que nessa longínqua época não fazia parte do cardápio dos políticos, embora não fosse tratada com tanto cinismo como hoje.
Resumindo esses espaços de tertúlia, tínhamos o American Bar ou a Taverna Imperial, para abrigar os ginjas, o Turf ou o Tauromáquico, tão impenetráveis como a actual defesa do Chelsea, o Bar Z, frequentado por seres exóticos, hoje conhecidos por gays, o Galo, o Cantinho dos Artistas, o Comodoro ou a Cave para as meninas bem das famílias mal, o da Discoteca da António Augusto Aguiar, para as meninas mal das famílias bem, o Lorde, o Ibéria ou o Belcanto, para as meninas de ambas as famílias quando envelheciam, o vizinho Mansarda que albergava existencialistas ou coisa parecida, e pouco mais.
Faltava o porto por achar, um bar moderno onde se pudesse reunir a fauna já citada, mas sem chocar as sensibilidades alfacinhas. Coube a Paulo Guilherme D'Eça Leal — um dos maiores artistas e boémios da época —, a honra, o engenho e a arte de criar esse desiderato pessoano.
No Snob não se encontram aqueles pretensos snobes de plástico, os famigerados pimbas, que ameaçam a liberdade das nossas instituições (nocturnas ou não) da Lisboa de agora (e tudo à volta). Não, lá os snobes são autênticos aristocratas das Artes, das Letras, da Imprensa, da Política, em suma, do Espectáculo. Não há Ferraris ou Lamborghinis à porta, nem as mulheres se apresentam como se fossem participar no desfile de encerramento de uma qualquer Moda Lisboa, porque aqui tudo é sugerido, nada é escancarado. O Snob tem o mistério da noite, tal como os seus snobes. Quando, após prolongada ausência, entramos neste espaço único lisboeta, por mais intimidade que exista entre nós e quem lá está, nunca somos saudados como se chegássemos de uma longa viagem ou de uma ignominiosa estada na Penitenciária. Recebemos apenas um piscar de olho, um breve aceno de mão ou um afável olá, próprio de quem esteve connosco na véspera. Depois, no Snob, cumpre-se uma regra de ouro dos bares, caída em desuso nestes tempos da tolerância: conhecidos os gostos dos frequentadores: não passam 30 segundos até que a bebida favorita esteja na mesa ou no balcão — lá é sabido que quem entra num bar é porque tem sede, excepção feita talvez a fiscais em serviço.
Quarenta anos depois da inauguração deste lendário espaço das noites de Lisboa, cantemos os parabéns à Dona Maria, ao Sr. Azevedo, à Menina Luísa e, claro, ao Sr. Albino, que no final deste excitante 2004 anda louco para conseguir achar o seu porto... E saudemos a sua resistência à agressão pimba.
Por tanto prezar a liberdade, digo também: eu sou um snobe!

João Braga, músico
(Texto escrito para a comemoração dos 40 anos do Snob/2004)

Snobismos - A Amizade Servida à Mesa





Na época estava na moda o Vat-69. Só depois é que o consumo do Cuty Sark adquiriu carta de alforria entre os mais apetrechados praticantes do desporto líquido. Bebia-se muito. O tempo não era favorável ao sonho, os melhores dos nossos amigos estavam no exílio ou nas masmorras do fascismo. E o álcool fazia desenvolver mecanismos de solidariedade. De quando em vez, um clandestino era preso; perguntávamo-nos se ele aguentaria, sussurrávamos, ciciávamos. Escrevíamos e falávamos baixinho, impelidos por esse sentimento do irremediável que lapidou para sempre os homens da minha geração e os da anterior. As coisas são o que são. Nada de ressentimento, nem de amargura. Vivemos na medida do possível. Ocasionalmente, relembramos episódios; e rimos do envolvimento trágico ou dramático que os condicionou. Muitos de nós fizeram o que era preciso fazer. Nada há de heróico ou de espantoso nisso; porém, não posso deixar de ornar certos homens e as suas circunstâncias de incomum grandeza. O Snob faz parte dessa história. Melhor: fizemos com que o Snob participasse da história de cada um de nós, em particular, e da história de todos, em geral. Dali, das conversas nas mesas, sob a luz opaca, nasceram jornais, livros, filmes, conspirações e júbilos. E algumas das mais sólidas amizades. No outro dia, regressei ao balcão de afectos, e bebi um pouco e devagar. O Snob estava cheio de outra gente, mas era a mesma gente transposta, reparei depois. Um pessoal que recebera o testemunho sem que ninguém lhe o desse; recebera-o de coração, para acrescentar à história a fatia de lenda que não admite nenhum equívoco. Foi há quarenta anos e foi hoje. E lá estavam o Eduardo Guerra Carneiro, o Afonso Praça e o Urbano Carrasco, cheios de palavras, mas também de silêncios, que iluminaram as proliferantes noites do Snob, repletas dos contínuos milagres da amizade.

Baptista-Bastos, escritor e jornalista

(Texto escrito para a comemoração dos 40 anos do Snob/2004)

quinta-feira, maio 11, 2006

L' IMPORTANT C'EST LA ROSE...!
MAS QUE É FEITO DA MARTA...?

J&B
(todo pastorinho)

terça-feira, maio 09, 2006

A Nova Questão Coimbrã


Da grade que me contém ao nível do chão o cenário não era visível, mas o tema apurou-me a audição. Vinha da mesa grande a conversa sobre a “Nova Questão Coimbrã”, a de 1865 ao contrário, e estava acesa a discussão. Que era: conimbricenses versus todos os portugueses. Deu-me logo para pensar como as coisas mudam com o tempo e como agora era Lisboa (que acolheu o retrógrado Sr. Feliciano de Castilho) a replicar a Coimbra (que albergou o adiantado Sr. Antero de Quental) o atraso mental dos actuais pensadores da cidade do Bazófias. Felizmente que o Sr. Fernando Madail, que defendeu heroicamente a sua dama e estava em audível minoria, não usou da roleta russa para por fim à discussão.
Ah!, ainda ficou a saber-se que a actual escola de bem pensantes de Coimbra se reduz a meros coimbrinhas…

Pedras Levíssima


Bibliografia do Sr. Castilho: Cartas de Eco a Narciso, 1821-A Primavera, 1822-Amor e Melancolia ou a Novíssima Heloísa, 1828-A Noite do Castelo, 1836-Os Ciúmes do Bardo, 1836-Quadros Históricos de Portugal, 1838-Escavações Poéticas, 1844-Mil e Um Mistérios, 1845-Crónica Certa e Muito Verdadeira de Maria da Fonte, 1846-A Felicidade pela Agricultura, 1849-Tratado de Versificação Portuguesa, 1851-Felicidade pela Instrução, 1854-A Chave do Enigma, 1861-O Outono, 1863.

Bibliografia do Sr. Quental: Sonetos, 1861-Beatrice, 1863-Fiat Lux!, 1863-Odes Modernas, 1865-Bom Senso e Bom Gosto, 1865-A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, 1865-Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX, 1865-Portugal perante a Revolução de Espanha, 1868-Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos, 1871-Primaveras Românticas, 1872-Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa, 1872-A Poesia na Actualidade, 1881-Sonetos Completos, 1886-A Filosofia da Natureza dos Naturalistas, 1887-Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX, 1890-Raios de Extinta Luz, 1892.

'Mea Culpa'

Confesso que fui sensível à reprimenda do sábio Madureira. Não havia necessidade de tanto recato. É certo que foi um período de confabulações não publicáveis mas os fins não podem justificar os meios, como ele, repetidamente, ia afirmando. Por isso se retoma aqui o quotidiano, tanto mais quanto não há eleições nacionais ou partidárias à vista, campo sempre prolixo para que o reflexivo tempo de escrita seja substituído pela mais energética especulação mental. Mea culpa...

A garrafinha de Tabasco

O CDS-PP e a mulher do coronel Fulgêncio Baptista


Como que a confirmar os títulos dos jornais do último fim de semana, que apontavam para uma profunda cisão ideológica no CDS-PP, um elemento da linha anti Ribeiro e Castro tentou, ontem, por duas-vezes-duas, no SNOB, andar com a Nossa Senhora Loira ao colo.
Só a firme, mas pedagógica, repreensão de um novel gestor pessoano (novel com v, por enquanto), recorrendo ao exemplo da mulher do coronel Fulgêncio Baptista que também tinha essa prática enraizada, conseguiu pôr cobro a tão vil assédio.

Garrafa de Parfait d'Amour (*)

(* ) Parfait d'Amour © é um licor de cor violeta com um suave aroma de pétalas de rosa, laranja e uma delicada sugestão de baunilha.)

sexta-feira, maio 05, 2006

Abafos 3#



Não posso deixar de exprimir o meu descontentamento. Já é a quarta ou quinta vez que por aqui passo e nada. Rien de rien. Isto era uma coisa séria! Vamos lá a ver se têm remorsos e em vez de ficarem pelas mesas do bar até horas impróprias - que até a minha mulher já se queixa das horas a que estou a chegar a casa depois de fechar esta chafarica – se vão embora mais cedo e se dedicam à escrita. Corrosiva q.b.

Madureira