SNOBISMOS - A Cantina
A cantina, diziam. Logo à noite na cantina. Eu não gostava dessa palavra. Impessoal, liceal. Que diabo. «Cantina». E, no entanto, à noite (fim de tarde ou noite noite) lá nos encontrávamos. No Snob. Era para a Rua do Século (eu para o taxista). Chegava à cantina: pacata, discreta, igualzinha, com madeira e pano verde. Mas animada pela conversa na mesa ao lado, que seguia mesmo sem fazer por isso. Mesmo que não levantasse os olhos do clássico bife (médio, com ovo). As pessoas do costume. Os grupos em despique e conspiração. A malta da imprensa. O meu amigo Francisco. O senhor Albino. E eu com as minhas três tristes tónicas. Jornais. Papelada. Logo à noite na cantina, dizia por vezes de mim para mim. E lá me dirigia, estivesse nessa noite derrotado ou feliz. Acreditem que não conheço melhor elogio.
Pedro Mexia, jornalista
(Texto escrito para a comemoração dos 40 anos do Snob/2004)
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